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1989

Março de 1989 Curso ministrado na USP por dois profissionais dinamarqueses, Demetrious Haracopos e Lennart Pedersen – com verba do CNPq
Por: Ana Maria Serrajordia Ros de Mello

Após a volta da viagem à Europa e Estados Unidos, enviamos um projeto ao CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) pedindo ajuda para organizar um curso de três dias com Demetrious Haracopos e Lennart Pedersen, dirigentes de uma grande instituição em Copenhague na Dinamarca.

O projeto foi assinado por mim e foi contemplado, mesmo sem que eu tivesse os títulos necessários, por ser o primeiro projeto sobre autismo apresentado ao CNPq. Assim, conseguimos os recursos necessários.

Como os pais da ASTECA, a associação de autismo de Brasília, estavam organizando o “I Congresso Nacional de Autismo” na semana anterior à de nosso curso, propusemos a nossos amigos que aproveitassem a vinda destes dois profissionais tão importantes convidando-os a participar do Congresso.

Em março de 1989, os dois profissionais dinamarqueses vieram ao Brasil e ministraram, em auditório da USP, um curso de três dias cujos resultados foram maravilhosos.

O público formou  uma fila imensa para inscrever-se e era tão numeroso que começamos a pensar em dispensar as pessoas a partir de um ponto da fila em direção ao seu final. Ao tentar esboçar a colocação da ideia da dispensa em prática, ouvíamos algo como “Eu vim de Belém do Para, especialmente para fazer este curso. Não posso sair daqui sem o curso”. Não sabíamos o que fazer. Então foi quando o corpo de bombeiros ameaçou interditar o auditório por falta de segurança devida à superlotação. Choramos, suplicamos e eles concordaram, mas exigiram que todas as portas do auditório permanecessem abertas.

Os temas tratados neste curso foram todos: desde a organização das salas de atendimento, a forma de ensinar, postura dos profissionais, como tratar problemas de comportamento e muito mais.

Além de precioso conteúdo técnico sobre a abordagem TEACCH, formas de avaliação e importância das atividades físicas, os palestrantes transmitiram aos participantes uma visão ao mesmo tempo realista e esperançosa sobre o autismo.

Foi a segunda grande contribuição da AMA para o desenvolvimento e difusão do conhecimento sobre o tratamento do autismo.


Junho de 1989 – Compra do sitio em Parelheiros
3 de setembro – realização do primeiro Leilão de Arte Beneficente no Gallery para aquisição de um sítio de 4,5 alqueires em Parelheiros
18 de setembro – transferência de atendimento para o sítio
Por: Ana Maria Serrajordia Ros de Mello

A casa da Rua do Paraíso ia ficando pequena.

Naquele ano de 1988, um pai doou à AMA  um quadro do pintor Gustavo Rosa. Pensamos em colocá-lo em um leilão de obras de arte, porque talvez pudesse ser leiloado e o valor recebido pudesse ajudar-nos.

Para nossa surpresa, pudemos constatar a nossa própria desinformação, porque o quadro tinha muito valor e contribuiu de forma impressionante com o nosso trabalho.

Como já sonhávamos com um lugar verde e amplo para o futuro de nossos filhos, nos ocorreu que podia ser uma boa ideia pedir doação de quadros a vários artistas e, em novembro do mesmo ano, enviamos cartas pedindo a doação, a todos os artistas que conseguimos localizar, inclusive a pintora Marysia Portinari, sobrinha do grande Candido Portinari.

Por sorte, a pintora Marysia Portinari, depois de receber nossa carta em novembro, sonhou, em fevereiro de 1989, que tinha uma missão importantíssima relacionada a crianças.

A pintora, que jamais será esquecida por nós,  lembrou de nossa carta e nos telefonou  para fazer mais que a doação de um quadro.

Ela perguntou qual era o nosso maior sonho e disse que ia ajudar a realizá-lo.

Disse que não queria que apenas vendêssemos o quadro que ia doar, mas que ele fosse o primeiro passo para a realização de nosso sonho.

A Marysia nos lembrou que lutávamos pelo sagrado direito de nossos filhos e que não podíamos desanimar.

Ela se prontificou a ajudar-nos a montar um grande evento com leilão de obras de arte. O mecanismo era simples, devíamos escrever ao primeiro artista, informando do leilão e que já tínhamos a doação de um quadro da pintora Marysia Portinari. Assim que ele decidisse doar-nos uma obra sua, escreveríamos ao segundo, informando do leilão e que já tínhamos duas doações confirmadas e assim por diante. Assim fizemos, e assim conseguimos um número expressivo de obras de arte.

Marysia também nos incentivou a procurar o empresário José Victor Oliva que, muito solidário, nos cedeu não somente o Gallery, mas também “um chá de Patronesses”, no Gallery, comandado por sua própria mãe.  

Muitos artistas famosos foram doando quadros e tudo foi sendo resolvido como por mágica.

No dia 3 de setembro de 1989 realizamos o Leilão Beneficente que tornou possível a compra de um sítio de 4,5 alqueires, a atual Unidade Parelheiros, para o qual transferimos nosso trabalho no dia 18 de setembro.

Começamos a pensar que havíamos conseguido colocar em movimento alguma força do Bem, porque se por um lado tudo parecia muito difícil, por outro, as soluções pareciam vir através de passes de mágica.


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