De 29 de junho a 01 de julho de 1994 – Realização do curso “Inserção na sociedade da Pessoa Autista/Deficiente Mental – Recursos Psico-pedagógicos usados na prática na Suécia”.
Por: Ana Maria S. Ros de Mello
No início de 1993 a assistente social Claudia Chaves Martins, brasileira, morando na Suécia e trabalhando com crianças com autismo, veio passar o Natal e começo do ano em casa de seus pais no Espírito Santo. De passagem por São Paulo, foi até a Faculdade de psicologia da USP e lá perguntou sobre publicações na língua portuguesa com o tema do autismo. Só encontrou publicações da AMA.
Assim, ela procurou a AMA que naquele início de ano estava de férias, e vendo todas as dificuldades que enfrentávamos, disse que ia voltar à Suécia e lá falaria com sua professora de autismo, Inger Nilsson, que com certeza gostaria de vir ao Brasil ministrar um curso sobre autismo, muito prático e interessante, sem cobrar nada, nem mesmo a passagem de avião.
Como prometeu, Claudia conversou com Inger Nilsson, psicóloga, pedagoga e socióloga, professora de psicologia que lecionava sobre autismo no College of Education de Estocolmo, Suécia. Esta se dispôs a ministrar um curso de três dias sobre autismo em São Paulo, com as despesas pagas por ela mesma. O curso aconteceu no auditório das Faculdades São Marcos, de 29 de junho a 1o de julho de 1994 e foi um grande sucesso.
Depois desta visita, houve outras, e os laços foram se estreitando: Inger Nilsson veio várias vezes e um dia voltou para a Suécia decidida a tomar uma atitude que resultasse em um apoio real ao desenvolvimento da AMA.
Inger e Claudia trabalharam com muita dedicação e o resultado foi a criação da “Associação de Amigos da AMA de São Paulo em Estocolmo”.
Associação de Amigos da AMA de São Paulo em Estocolmo
Relato de experiência AMA & Suécia
Por: Claudia Chaves Martins
Após um longo período que não tínhamos contato, recebi um e-mail da Ana Maria que me deixou muito feliz. No e-mail ela me pede para fazer um relato do processo do nosso trabalho de colaboração entre Brasil e Suécia. Um projeto de apoio à AMA-SP – Associação de Amigos do Autista.
Este processo foi de construção de uma relação de trabalho, mas também uma relação de amizade e encontros importantes.
O processo de construção do projeto de ajuda à AMA-SP advém conjuntamente com o meu processo de integração na sociedade sueca e na construção da minha identidade profissional na Suécia. O programa de prestação de ajuda à AMA-SP foi também de ajuda à construção da minha identidade profissional na Suécia.
Fui morar na Suécia em 1990 após ter morado em Trieste, Itália, e ter feito um estudo teórico-prático no “Hospedale San Giovanni” onde a reforma da psiquiatria antimanicomial foi implementada.
O meu contato com a AMA-SP iniciou-se em 1992 quando eu consegui o meu primeiro trabalho como assistente de alunos em uma escola de educação especial na qual havia algumas crianças com autismo. Quando fui ao Brasil no período de férias, tive a curiosidade de verificar como se dava o atendimento e atenção a crianças e jovens com autismo no meu país. Desta forma encontrei a AMA.
O meu primeiro contato com a AMA se deu na casa da Ana Maria porque a escola estava fechada para férias escolares. O encontro foi muito interessante porque Ana Maria me apresentou o seu filho Guilherme. Este encontro gerou e marcou uma relação entre nós que foi além de uma relação de trabalho e colaboração.
Neste período eu estava participando, através do trabalho, de um curso sobre autismo e sobre o programa de educação especial para crianças e jovens com autismo com base metodológica no programa TEACCH Treatment and Education of Autistic and related Communication handicapped CHildren, da Carolina do Norte, EUA. A Associação Nacional de pais de crianças com autismo na Suécia recomendou a introdução do programa nas escolas e classes de educação especial.
Eu indaguei se a AMA estaria interessada em convidar a professora que ministrava o curso, Inger Nilsson, e Ana Maria esclareceu que deveria primeiro apresentar a proposta à equipe da AMA. A equipe aprovou a ideia e logo em seguida apresentei a proposta a Inger Nilsson, que após um período de reflexão a aceitou.
Inger e eu fomos para o Brasil com recursos próprios e iniciamos um processo de aprendizado, colaboração com a equipe da AMA. Inger ministrou palestra e seminários.
Desta forma se deu o início do nosso trabalho. Após este período convidamos Ana Maria, Marli e Marisa para visitar a Suécia e conhecer escolas, residências protegidas para jovens e crianças com autismo. As residências para adultos também foram incluídas nas visitas.
Aos poucos passamos a compreender a luta diária e a história da AMA no processo para criar um aprendizado qualificado para as crianças e jovens com autismo. Passamos a compreender a força e luta dos familiares para oferecer uma educação digna para os seus filhos.
Continuamos a colaborar de maneira informal com a equipe da AMA, indo para o Brasil oferecendo cursos e trazendo alguns especialistas da equipe para a Suécia. Eu morava em um pequeno apartamento, mas havia espaço para receber e construir uma história.
Começamos com ajuda de alguns amigos a tentar solicitar apoio econômico através de fundos de ajuda. Enviamos cartas sem obter nenhum resultado até que um amigo que tinha experiência com projetos nos ensinou como deveríamos agir.
Criamos um grupo de amigos da AMA na Suécia. Uma associação formal sem fins lucrativos. Cada pessoa se tornava associado e pagava um pequeno valor para se associar. Registramos a associação e divulgamos ao grupo das pessoas que trabalhavam com crianças e jovens com autismo. A associação cresceu, fazíamos as reuniões no meu prédio, no salão de festas. Passamos a pesquisar como deveríamos encaminhar um projeto de apoio e colaboração com a AMA. Foi quando descobrimos a SHIA – Svensk Handikapp internationell institut. Esta instituição financiava projetos em outros países. Nos informamos de que seria necessário ter o apoio de associação nacional e desta forma iniciamos o contato com a associação nacional de pais de crianças, jovens e adultos com autismo, Autism & Asperger Förbundet. Precisamos do apoio deles para ter o apoio da SHIA, porque deveriam ser os responsáveis pela administração do projeto.
Este processo transcorreu durante um longo período para poder atender à solicitação, cumprir todos os critérios, fazer os acordos necessários, preparar a documentação e, até conseguir a aprovação, foi um trabalho árduo e complexo. Há uma rígida burocracia e um severo controle.
A América Latina naquele período não era prioridade para a organização SHIA, principalmente o Brasil
Em 2000 finalmente o projeto foi aprovado e então passamos a fazer o processo de colaboração com a AMA-SP de maneira formal, com a associação de autismo sueca sendo responsável pela administração e implementação do programa. As linhas centrais do projeto foram: Implementar um programa de aprendizado de métodos de comunicação para crianças e jovens adultos com autismo; criar um programa de formação para os pais sobre o autismo; desenvolver a página da internet e torná-la mais informativa e educativa; criar uma parceria com a Universidade de medicina e fonoaudiologia; ministrar cursos sobre pedagogia para o autismo, implementar o atendimento pré-escolar.
Vários profissionais da área na Suécia integraram o projeto: fonoaudiólogos, médicos, professores. Três jovens com autismo da Suécia foram ao Brasil dividir sua experiencia de ter o diagnóstico e este foi um processo muito lindo e rico.
Também tivemos vários profissionais da AMA que vieram para a Suécia receber formação e fazer visitas de estudo.
O projeto teve a duração de 10 anos e recebeu a aprovação das organizações que financiaram o projeto. Fomos convidados algumas vezes para apresentar o projeto como um exemplo de bom projeto para outras associações e organizações aqui na Suécia.
Eu iniciei o meu relato ressaltando que a experiência do projeto com a AMA-SP está intercalada com o meu processo individual de construção da minha idade profissional na Suécia.
Quero aqui agradecer a todos os profissionais e amigos da AMA-SP, principalmente às crianças, jovens e adultos com autismo e seus familiares.
Tenho muito orgulho de ter feito parte deste processo de construção e transformação de instituição tão importante para as pessoas que têm autismo.
O motivo de termos investido na AMA foi porque ela é referência de autismo no Brasil. Pioneira em divulgar o conhecimento sobre o autismo através de uma equipe lutadora.
Muito obrigada,
Claudia Chaves Martins
Marco /2022
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