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1983

Agosto de 1983 – Fundação da AMA – Associação de Amigos do Autista
Por: Ana Maria Serrajordia Ros de Mello

Nossa primeira reunião aconteceu em um consultório psiquiátrico: éramos pais de crianças pequenas diagnosticadas como autistas pelo Dr. Raymond Rosenberg.

Naquela época, a maioria esmagadora dos médicos e profissionais da área de saúde mental atribuía a origem do autismo a problemas de relacionamento causados por uma mãe fria e excessivamente racional.

Tínhamos em comum um longo e obscuro caminho em busca de um diagnóstico e finalmente encontráramos no Dr. Rosenberg alguém que parecia nos entender e se preocupava em nos ajudar.

O Dr. Rosenberg, muito ético, ao agendar esta reunião, foi claro, dizendo que poderíamos nos reunir algumas vezes em seu consultório, mas teríamos que encontrar nosso próprio caminho caso quiséssemos realmente ajudar os nossos filhos.

Quando eu fui convidada, declarei que nada no mundo me faria deixar de participar daquela reunião. No dia marcado, meu filho Guilherme teve o primeiro de uma série de acidentes graves que foram acontecendo até ele chegar à vida adulta. Caiu da janela do segundo andar da minha casa e, como por milagre, não sofreu nenhuma fratura e nem sequer algum tipo de marca ou arranhão.

À noite, lá estávamos nós participando da reunião. Éramos um grupo de pessoas que não se conheciam, todas passando por uma experiência dura e muito semelhante.

Pela primeira vez em muito tempo eu falava e sentia que as pessoas me entendiam.

Continuamos nos encontrando e, já decididos a formalizar a associação, escolhemos o nome.

Em 8 de agosto de 1983, a AMA – Associação de Amigos do Autista, foi registrada oficialmente.

Naquela época, não existia no Brasil nenhuma associação dedicada ao autismo legalmente registrada. Havia alguns pequenos projetos dedicados ao autismo e alguns grupos de pais pensando em organizar-se, mas nenhum conseguia avançar muito, porque o autismo era praticamente desconhecido e considerado como uma doença muito rara.

A primeira questão que se apresentou ao grupo foi decidir se a nossa associação teria como objetivo cuidar apenas dos filhos do grupo fundador, ou se a proposta seria de ajudar direta ou indiretamente todas as pessoas com autismo no país.

A segunda opção foi a escolhida.


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